Aos 14 anos, Maria Adriane apresentou problemas de saúde, mas durante a realização de exames de imagem a equipe médica identificou que ela possuía apenas um rim, e que o órgão estava malformado e sobrecarregado. Uma condição que poderia se agravar com o tempo e complicar a saúde da então adolescente. À época, foi encaminhada a outro hospital, onde foi acompanhada até os 19 anos. Apesar dos cuidados recebidos, começou a sentir náuseas, dor de cabeça, sensação de desmaio e foi submetida a uma cirurgia que ajudou a amenizar os sintomas.
Em junho de 2021, foi encaminhada ao Hospital Ophir Loyola, referência no transplante renal na região Norte, onde deu início aos cuidados e exames necessários ao procedimento cirúrgico de alta complexidade. No mesmo período, passava por hemodiálise na rede conveniada com o SUS. Os testes de compatibilidade sanguínea ABO e HLA (Antígeno Leococitário Humano) realizados na paciente e na mãe, foram favoráveis ao procedimento cirúrgico. Ambas passaram por uma média de 40 exames, incluindo análises do coração, das artérias e da bexiga. O doador precisa estar com a saúde em dia.
“Tive que deixar a aldeia e vir morar em Belém por causa da hemodiálise. Eu fiquei alojada na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), em Icoaraci, porque tinha tratamento três vezes por semana. Foi um período difícil de adaptação, sentia falta do meu lugar, de tomar banho de rio, de comer peixe assado e de tomar açaí. A nova realidade me deixou muito mal no começo, deu tudo certo, apesar de ainda não ter conseguido me acostumar com a cidade”, disse.
Apesar de ficar apreensiva no início, Maria Cleia imaginava que qualquer pessoa que seria submetida a uma cirurgia se sentiria dessa forma. “São incertezas que vêm na cabeça, mas nunca desistiria. O bom mesmo é quando a gente se recupera e sabe que a nossa solidariedade mudou a vida de alguém. Nesse caso, devolvi qualidade de vida para a minha filha e, se eu tivesse mais rins, doaria com certeza”, afirmou Maria Cleia.
Transplantes
Desde o procedimento inaugural em 1999, o Hospital Ophir Loyola realizou 707 transplantes renais. “O serviço é formado por uma equipe multidisciplinar, composta por assistentes sociais, psicólogos, enfermeiras e pelos médicos anestesiologistas, nefrologistas, cirurgiões vasculares e urologistas. Atuamos com diferencial técnico e comprometidos com o benefício social que o transplante traz para os pacientes”, afirmou a coordenadora do Serviço de Nefrologia do HOL, Silvia Cruz.
Segundo a médica transplantadora, a incidência das doenças renais crônicas (DRC) é desproporcionalmente elevada entre as minorias étnicas e raciais em países desenvolvidos. “Não temos dados na literatura brasileira sobre a incidência de transplantes em povos indígenas, mas sabemos que há uma demanda crescente por transplantes nessa população. As doenças renais são duas ou até quatro vezes mais frequentes nessas etnias do que na população em geral. Essa doença é considerada uma epidemia e muitas pessoas estão chegando à diálise por falta de conhecimento. Com o acompanhamento adequado, conseguimos postergar a necessidade de diálise”, afirmou.
Os tratamentos de diálise e transplante não curam a doença renal crônica, contudo possibilitam uma maior qualidade de vida aos pacientes. Estima-se que 150 mil brasileiros estão em tratamento de diálise no Brasil, mas nem todos têm indicação ao transplante, que pode ocorrer intervivos ou com doadores falecidos. “O procedimento intervivos é mais tranquilo, porque acompanhamos tanto o doador quanto o receptor. Essa filha ganhou uma nova vida, foi uma doação muito bonita e evidencia que o amor dessa mãe ultrapassa limites. Ela deu vida durante o nascimento e, agora, novamente”, disse a médica.
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